Entrevista! Lanรงamento do e-book "๐๐๐ซ๐ซ๐๐ญ๐ข๐ฏ๐๐ฌ ๐ง๐๐ ๐ซ๐๐ฌ ๐ ๐ข๐ง๐ฌ๐ฎ๐๐ฆ๐ข๐ฌ๐ฌ๐๐ฌ ๐๐ฆ ๐ญ๐๐ฆ๐ฉ๐จ๐ฌ ๐๐ ๐ข๐ฌ๐จ๐ฅ๐๐ฆ๐๐ง๐ญ๐จ ๐ฌ๐จ๐๐ข๐๐ฅ” e conversa com Ana dos Santos, poetisa que participa do projeto
3/08/2021 02:24:00 PMEstamos perto de completar um ano de pandemia no Brasil. Para todos nรณs, sรฃo tempos รบnicos, com dificuldades, lutas e um severo apelo ร resiliรชncia. Enquanto observamos as nossas desventuras para manter o isolamento social e lidar com os desafios em todas as รกreas de atuaรงรฃo e papรฉis que exercemos (profissionais, estudantes, pais, mรฃes, cidadรฃos), tambรฉm somos testemunhas de um movimento que nos ajuda a seguir adiante: o compartilhamento de experiรชncias nos mais diversos formatos.
Vรกrias iniciativas, como o Diรกrio da Pandemia (https://diariodapandemia.blogspot.com/) , surgiram da รขnsia que temos por compartilhar, interagir e perceber que a luta รฉ geral. Luta pela vida, pela saรบde, pelo sustento. Uma que tambรฉm persiste รฉ a luta por visibilidade, voz e reconhecimento. Luta para mostrar as mais diversas vidas, realidades e artes. Lรก a gente jรก teria contato com a nossa convidada de hoje, no relato do dia 137. Confere aqui o depoimento da Ana!
Temos entรฃo, hoje, uma entrevista com a Ana dos Santos, mulher negra, poetisa e autora do Blog Flor do Lรกcio (http://anitamorango.blogspot.com/). A Ana faz parte do grupo pรบblico Leia Mulheres Porto Alegre - RS (https://www.facebook.com/groups/leiaMulheresPOA) e foi atravรฉs de uma postagem dela lรก que a gente ficou sabendo sobre o lanรงamento do livro “๐๐๐ซ๐ซ๐๐ญ๐ข๐ฏ๐๐ฌ ๐ง๐๐ ๐ซ๐๐ฌ ๐ ๐ข๐ง๐ฌ๐ฎ๐๐ฆ๐ข๐ฌ๐ฌ๐๐ฌ ๐๐ฆ ๐ญ๐๐ฆ๐ฉ๐จ๐ฌ ๐๐ ๐ข๐ฌ๐จ๐ฅ๐๐ฆ๐๐ง๐ญ๐จ ๐ฌ๐จ๐๐ข๐๐ฅ”, no qual ela participa com o poema “O Estrondo do Silรชncio”.
O livro foi organizado por Cristian Sales, Dayse Sacramento, Deisiane Barbosa e Manoela Barbosa e รฉ fruto de uma parceria entre a Plataforma Diรกlogos Insubmissos de Mulheres Negras ( @dialogosinsubmissos / https://www.facebook.com/dialogosinsubmissos/) com a @andarilhaediรงรตes. O livro pode ser acessado atravรฉs do link: shorturl.at/gzCG9
Nessa conversa, a Ana nos fala um pouco dela, da poesia, literatura e os efeitos da pandemia.
BSBU: Conta um pouco de ti, da tua histรณria...
Meu nome รฉ Ana Dos Santos, sou poetisa, escritora e contadora de histรณrias. Minha mรฃe รฉ professora de filosofia e sempre me incentivou ร leitura. Acredito que isso รฉ nossa heranรงa, pois meu filho Guilherme, com 9 aninhos tambรฉm jรก rabisca seus poemas e mini contos!
BSBU: Apresenta pra gente a tua poesia, fala um pouquinho dos teus livros!
Tenho 3 livros de poemas publicados:
“Flor” (2009, Corpos Editora/Portugal, selecionado no concurso Ministรฉrio da Poesia do site World Art Friends) ;
“Poerotisa” (2019, Editora Figura de Linguagem/Porto Alegre, finalista dos prรชmios: Associaรงรฃo Gaรบcha de Escritores AGE livro do ano – 2020 na categoria Poesia e finalista do prรชmio Milton Josรฉ Pantaleรฃo de Literatura Independente da Academia de Letras do Brasil seccional Rio Grande do Sul)
“Pequenos grandes lรกbios negros” (2020, Editora Venas Abiertas/Minas Gerais)
Agora estou com um poema publicado na coletรขnea "Narrativas Negras e Insubmissas em tempos de isolamento social" que fala sobre o silรชncio do isolamento que nos leva a refletir sobre as desigualdades sociais e o descaso com a vida. Escrevo sempre do meu lugar de fala como uma mulher negra brasileira.
BSBU: Quais sรฃo as tuas referรชncias para escrita? Inspiraรงรตes?
Minhas influรชncias sรฃo Fernando Pessoa, Machado de Assis, Clarice Lispector, Carolina de Jesus, Lima Barreto e Carlos Drummond de Andrade. Minhas inspiraรงรตes vรชm de vรกrios estรญmulos, mas acredito que a mรบsica รฉ a principal inspiraรงรฃo, tanto em letra quanto em ritmo e daรญ tanto o rap nacional como a Mรบsica Preta Brasileira. Mas minha condiรงรฃo de mulher negra รฉ o mote da minha escrevivรชncia.
BSBU: E nesse caminho de referรชncias, indicaรงรตes: agora temos mais visibilidade para as autoras e autores negros ( o "Pequeno Manual Antirracista", livro da Djamila Ribeiro foi um dos mais vendidos em 2020 e Jeferson Tenรณrio foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, para citar apenas dois exemplos recentes)... Mas, para muitos de nรณs, a literatura negra ainda รฉ um terreno inexplorado, principalmente, a nacional. Tu poderia indicar autoras e/ou autores pra gente?
Com certeza, a Literatura Negra ainda รฉ um terreno "obscuro" no sentido literal da palavra. Se existe essa palavra "Negra", a sociedade brasileira tem que admitir que a maioria da populaรงรฃo รฉ negra e no entanto essa mesma maioria que รฉ excluรญda tambรฉm desconhece os escritores e escritoras negros brasileiros. Minhas indicaรงรตes sรฃo: Carolina de Jesus, Lima Barreto, Conceiรงรฃo Evaristo, Miriam Alves, Oliveira Silveira e uma escritora que รฉ considerada a primeira escritora negra gaรบcha: Maria Helena Vargas da Silveira autora do livro "ร fogo" de 1987 e republicado agora em 2020 pela editora Hucitec. Temos que reconhecer que nossos passos vรชm de longe!
BSBU: Acho que nรฃo conseguimos fugir e falar sobre a pandemia, nรฉ? Inclusive, jรก que o "Narrativas negras e insubmissas" surge nesse contexto... Como estรก foi/estรก sendo esse tempo pra ti? Como mulher, estudante, escritora..
Nรฃo tem como a gente nรฃo falar sobre a pandemia porque ela alterou e continua alterando o destino de todo o planeta. A coletรขnea surgiu com essa proposta, como as mulheres negras estรฃo sobrevivendo ร pandemia. Muito emblemรกtico que a primeira vรญtima do vรญrus foi uma empregada domรฉstica negra. Isso diz muito sobre o Brasil...
Tambรฉm sabemos que o trabalho domรฉstico triplicou para as mulheres, porque a estrutura patriarcal da sociedade brasileira diz que a gente nasceu para cuidar da famรญlia, dos filhos, dos pais, dos companheiros. ร lรณgico que essa conta nรฃo fecha, porque tivemos que trabalhar e estudar em casa tambรฉm.
Eu entrei 2021 com o saldo negativo do isolamento: trabalhando o dia inteiro no computador, como professora e pesquisadora, estou com um um problema na coluna e o grau do meu รณculos aumentou...enfim, o corpo fala, e o corpo da mulher negra tem um DNA de opressรฃo secular.
Por isso, um dos temas da coletรขnea รฉ o auto cuidado. Quem cuida de quem cuida de todos? Onde estรก o nosso respiro, o nosso prazer. Talvez seja a leitura, a mรบsica, a arte. Talvez a espiritualidade ou os exercรญcios fรญsicos. O importante รฉ que quem deveria cuidar dos direitos dos cidadรฃos estรก colocando nossas vidas em risco e as vidas negras sรฃo as que menos importam!
Como diz Emicida, "tudo que nรณis tem รฉ nรณis"!!!
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