Entrevista (!) - Gabriela Cerqueira e os A.A.Q. (Acumuladores Anônimos da Quarentena)
8/07/2020 12:51:00 PMComo enfrentar a pandemia? Encontrar um hobby, cuidar dos animais, meditar, estudar, manter a saúde mental. Podemos dizer que cada um de nós está tentando encontrar alguma lógica nos tempos atuais, algum fio condutor. Para algumas pessoas (sortudas), é possível colocar no papel um pouco do que se passa nesses dias conturbados e, com isso, tentar ter algum tipo de catarse e alívio do desconhecido. E quando isso ainda gera reconhecimento, além da catarse e alívio, podemos conseguir um pouco de energia e resiliência para continuar. Hoje a gente conversa um pouco com a Gabriela, egressa do curso de Especialização em Teoria e Prática da Formação do Leitor, da unidade de Porto Alegre da Uergs. Ela conquistou o 2º lugar na categoria “crônica” no concurso Rasuras, promovido pela PUCRS e que teve seu resultado divulgado no início de julho. A crônica “A.A.Q. - ACUMULADORES ANÔNIMOS DA QUARENTENA” fala sobre os primeiros passos, sobre tentar se organizar no caos do isolamento social. A gente percebe nela (e aqui com a conversa) uma escrita rápida e divertida. Os textos finalistas e vencedores do concurso foram reunidos em um e-book de acesso gratuito, disponível neste link. Confere o nosso papo com a Gabriela e depois aproveita essas dicas de leitura! 1) Fala um pouco de ti :) Sou gaúcha, filha do meio de cariocas que não temem o frio do Sul e tenho uma pinscher com alma de capivara. Adoro tudo que envolve histórias reais ou fictícias, então minha rotina é repleta de livros, filmes, séries e bloquinhos de anotações entre uma e outra xícara de chá. Minha trajetória profissional seguiu esses interesses, sou bacharel em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela UFRGS, especialista em Teoria e Prática da Formação do Leitor pela Uergs e atualmente sou estudante de Letras - Língua Portuguesa na PUCRS. Eu fui uma criança leitora e gostava de criar histórias. Também escrevia em diário, hábito que mantenho até hoje. A minha mãe guarda minhas provas da escola porque no verso delas têm muitas histórias em quadrinhos. Mas na vida adulta a escrita acabou ficando restrita ao campo profissional e acadêmico por muito tempo. Porém, sempre produzi conteúdo inspirada no estilo de escrita do jornalismo literário. Quando ingressei no curso de Letras retomei o hábito da escrita de ficção. Recorrer à escrita sempre foi a forma de eu tentar compreender os meus sentimentos, então escrever no diário os primeiros dias da quarentena me ajudou a refletir sobre o que estava acontecendo e planejar os próximos passos. Aliás, planejamento e prevenção são a dupla sertaneja que toca em repeat eterno na minha mente, com um único hit de sucesso, “Ansiedade”, então escrever uma crônica sobre a quarentena abordando essas características da minha personalidade foi algo natural. 4) Por que escolheu o gênero crônica para se inscrever no concurso Rasuras? Eu amo histórias, mas se eu fosse um personagem de Harry Potter com certeza eu seria uma trouxa. O universo fantástico não me atrai tanto quanto as histórias que, mesmo sendo fictícias, se aproximam da realidade. Os meus movimentos favoritos do cinema e de seriado, Mumblecore e Mockumentary, se caracterizam pela ausência de efeitos especiais. Além disso, eu sempre gostei de ler crônicas em jornais impressos e era leitora assídua do espaço do Moacyr Scliar na Zero Hora tendo, inclusive, um jornal autografado por ele na página da crônica daquela semana em 2004. Então quando resolvi me inscrever no concurso, o que comecei a desenvolver como um conto acabou pendendo para a crônica pelos meus referenciais serem repletos de narrativas sobre o cotidiano. Todo texto que tira nosso olhar do automático para mim já é a literatura acontecendo, e o gênero que mais me impacta nesse sentido é a crônica. Os itens vão mudando de lugar, mas sem formar nenhuma viela italiana coesa ainda (hehe). Os livros, por exemplo, saem da estante e vão se acumulando em cima da cama (alguns embaixo do travesseiro), mas seguem fechados, porque somente os felizardos já lidos retornaram para a minha estante-escada. Eu sigo em quarentena desde o dia 16 de março e como resido sozinha tem dias de pilhas sortidas quase me sufocando pela bagunça e dias de extrema arrumação, seguindo a oscilação de sentimentos reprimidos e extravasados com tantas notícias tristes, que também parecem só se acumular dentro de mim. Porém, após escrever a crônica tive um impulso de fazer mais doações. Já havia doado livros e roupas antes da quarentena pois é algo que faço pelo menos uma vez por ano, e agora já enviei mais algumas levas de peças para instituições que fazem um ótimo trabalho em Porto Alegre. Certamente o que não nos completa pode encaixar perfeitamente na vida e no coração de outras pessoas. 6) Quais são os seus livros e autores favoritos? Dicas de leitura para a quarentena? Eu gosto muito do que chamo de “livros mumblecore”, peguei o termo emprestado do cinema para definir as narrativas que mesmo quando são ficção poderiam ser uma história real. A Elena Ferrante, pseudônimo de uma escritora italiana, me cativou recentemente pela tetralogia napolitana, que traz uma trama que deixou leitores no mundo em dúvida se estavam lendo um diário real. Também gosto de escritores e tramas que criam uma certa atmosfera, que te fazem sentir o que o personagem está sentindo. A Natália Borges Polesso tem um livro, Controle, que é repleto de trechos de músicas, o que inclusive impulsionou uma leitora a criar uma playlist no Spotify. Enquanto lia me senti na trama por causa das músicas. Mas para mim é muito difícil fazer uma lista de escritores e livros favoritos, gosto de dizer que a leitura é meu hábito favorito. Para a quarentena acho que é um bom momento para embarcar na tetralogia napolitana da Ferrante e ter muitas horas preenchidas. Para quem estiver com dificuldade de foco, um sintoma muito relatado na quarentena, indico livros de contos, poesia, crônica ou, ainda, livros curtos que tenham humor, como os da Claudia Tajes que é genial. Texto: Laís Nunes
2) Como foi te descobrir escritora? Foi algo que sempre fez parte da tua vida?
3) Como foi tentar passar para o papel a experiência de quarentena?
5) E agora? Os itens acumulados já estão encontrando os seus lugares? Como está a vida nesses mais de 100 dias de isolamento?
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